“Eu vou chamar o síndico, e não será o Tim Maia”. Hoje, 30 de novembro, é comemorado o Dia do Síndico. Retratado na música W/Brasil, de Jorge Ben Jor, o apelido de “síndico do Brasil” surge na composição após uma reflexão do cantor, que teria dito: “O Brasil tá tão louco que, se o Brasil fosse um prédio, o síndico seria o Tim Maia”.
Conhecido por seus atrasos e não comparecimentos aos shows, além das reclamações durante as apresentações, o síndico do Brasil era julgado por suas atitudes não profissionais. Diferentemente de Tim Maia, o ato de administrar condomínios tem ganhado caráter profissional nos últimos anos.
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Uma pesquisa de 2021, da plataforma SíndicoNet, aponta que 18% dos condomínios possuem síndicos profissionais. Número bem diferente do registrado em 2013, quando apenas 6% das administrações eram realizadas por pessoas especializadas. A ascensão do mercado de síndicos profissionais tem sido uma resposta às demandas e complexidades da administração condominial dos dias atuais. O síndico profissional, muitas vezes com formação em administração ou áreas afins, é contratado para trazer uma gestão mais estratégica de condomínios.
O serviço prestado pelo gestor externo costuma ter uma abordagem mais técnica, diferentemente do síndico orgânico, que é quando um morador do condomínio assume o cargo de forma voluntária, muitas vezes sem experiência ou formação específica em gestão condominial. Assim como no mandato do síndico morador, o profissional é escolhido através de assembleia, tendo contratos de dois anos consecutivos, sem limite para renovação. As responsabilidades legais também são as mesmas que constam no Código Civil quanto ao que compete ao síndico.
Apesar de novidade para muitas pessoas, o síndico profissional já tem sido uma realidade em muitos condomínios em Santa Maria. Tido como um incômodo para muitas pessoas, a advogada e síndica profissional Camilla La Rocca, 46 anos, considera o trabalho como uma ‘encrenca boa’.
A profissional, que há 10 anos começou sua trajetória na administração do condomínio em que mora, hoje comanda a sua própria empresa de síndico profissional com uma equipe de cinco pessoas.
— Eu comecei a me aprofundar na área de direito condominial e fui trabalhando com condomínios, fazendo vários trabalhos de cobrança e execuções, questões jurídicas que envolvem os condomínios. Há dois anos, eu saí do meu emprego e resolvi trabalhar exclusivamente como síndica profissional, porque se tornou uma coisa que eu desenvolvi uma paixão — revela.
Para a síndica, a bagagem trazida como advogada contribui para a resolução de um dos maiores problemas: conflitos entre moradores.
— Quando se é um síndico orgânico, às vezes, não se consegue resolver um conflito entre vizinhos ou um problema por não querer se indispor. O síndico profissional vai resolver o problema, é uma obrigação dele na prestação de serviço que ele está oferecendo. É uma vantagem para o condomínio ter um síndico atuante que seja neutro, que não tenha envolvimento com nenhuma das partes — avalia.
De vizinhos a sócios de uma empresa de síndicos profissionais, a parceria de Lucas Aozani, 34 anos, e Vanderlei Peres, 44, deu tão certo que, hoje, o empreendimento dos dois administra cerca de 80 condomínios em Santa Maria.
O cadastro nas administradoras foi o pontapé inicial para a conquista de clientes, que cresceu mesmo com o popular boca a boca. Para os sócios, a característica fundamental para o síndico profissional é a proatividade. E isso inclui o desenvolvimento de diversos conhecimentos que envolvem a rotina de um condomínio - ou de vários, como é o caso da empresa.
— Se a pessoa pensa em ser síndico, ela deve começar no próprio condomínio para ver se gosta. Em um condomínio que tiver irregularidades, tu vais notificar e receber uma certa resistência, vai ver cara feia. Mas um daqueles moradores vai chegar e te agradecer por ter colocado ordem. Tem que ter um perfil psicológico muito bom, se não a pessoa acaba ficando aborrecida e deprimida — aconselha Peres.
Atenta à demanda dos condomínios pela profissionalização dos síndicos e por pessoas que desejam se qualificar, a Avacon - Gestão de Condomínios tem desenvolvido cursos e palestras com foco no novo formato. O diretor, Cristian Menezes, avalia que a mudança no Código Civil em 2002, que viabiliza a figura do síndico não condômino, e mais recentemente a pandemia, contribuíram para a ascensão da nova categoria.
— O síndico morador já não está mais dando conta justamente por todo o envolvimento que se deve ter, além da rotina fora do condomínio. Da mesma forma que começaram a aparecer pessoas que querem se capacitar. Então, vimos a necessidade de oferecer capacitação já que essas pessoas estão ocupando cargos que mexem com recurso financeiro, questões jurídicas e contábeis do condomínio — explica.
Dos mais de 200 condomínios administrados pela Avacon, cerca de 40% contam com síndico profissional. A empresa também conta com cadastramento de síndicos profissionais para atender a busca dos condomínios que gerenciam.